A maioria das pessoas já conviveu com este ruído estranho no ouvido, sem perceber. Mas em 20% da população mundial o som é tão incômodo e frequente que chega a atrapalhar totalmente a rotina de vida.
O zumbido é também conhecido como tinido, ele não é considerado uma doença por si só, mas o sintoma de alguma patologia, assim como a febre ou a dor-de-cabeça. Capaz de acometer homens e mulheres de todas as idades, sendo mais freqüente em idosos, o zumbido caracteriza-se por uma sensação de som quando não há nenhuma fonte externa para produzi-lo. Cada pessoa percebe o problema de uma forma, algumas relatam escutar um ruído agudo, fino, que lembra um inseto, como uma abelha. Outras o comparam com o barulho de uma panela de pressão ou de cachoeira. Quanto à sua freqüência, o ruído também pode ser constante ou não, o que é quase uma regra nos relatos, no entanto, é o fato de a manifestação sonora ser mais fraca durante o dia e se intensificar ao anoitecer, assim como a maneira de ouvir o zumbido varia de pessoa para pessoa, o transtorno que ele pode causar também é diferente.
Quando o ruído é associado a emoções negativas, um período de estresse físico ou emocional, por exemplo, ele se torna muito incômodo. Isso também ocorre no caso de uma má orientação profissional, em que o especialista diz ao paciente que aquela perturbação não tem cura. Há diversas classificações para o zumbido, e sua gravidade depende da sensibilidade de cada um.
Para o médico otorrinolaringologista Cláudio Coelho, membro da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, existem várias hipóteses para o aparecimento desse ruído que geralmente começa na parte interna do ouvido, a chamada orelha interna. Pode ser uma alteração nos canais de sódio e de potássio ou na quantidade de células da região. Com o tempo, é natural que a camada celular externa, considerada protetora, diminua, no entanto, se essa perda for grande (o que costuma ocorrer com exposição constante a ruídos ou o uso de alguns medicamentos), ela pode desencadear o sintoma.
Diferentemente do que muita gente imagina, o problema não está necessariamente ligado a deficiências auditivas ou surdez. Estudos recentes mostram que essa associação, aliás, só ocorre devido à atenção que se dá ao zumbido. A pessoa fica tão focada nele que não presta atenção ao que os outros dizem e acaba não compreendendo. Há diversos outros fatores envolvidos na manifestação do som no ouvido, entre eles o próprio envelhecimento; problemas otológicos (como cera no conduto auditivo, otite e labirintite); alterações metabólicas de glicose, triglicérides e da tireóide; doenças cardiovasculares; uso de alguns remédios, como os que contêm ácido acetilsalicílico, determinados antiinflamatórios, diuréticos e antibióticos; complicações odontológicas, como disfunção de ATM (articulação têmporomandibular) e exposição à poluição sonora (pessoas que trabalham em fábricas sem proteção auricular, motoristas de ônibus, músicos, entre outros).
É normal ouvir esse tipo de ruído após sair de um local barulhento. Isso porque ocorre a fadiga do ouvido. Mas uma pessoa que fica muito tempo em ambiente silencioso também pode escutar zumbidos. O cérebro amplifica qualquer barulho mínimo como forma de defesa do organismo. Quando acampamos, por exemplo, o barulhinho que nem chamaria atenção durante o dia se transforma em um grande ruído à noite. Isso porque estamos relaxados, silenciosos e, neste momento, todos os nossos neurônios estão voltados a identificar e reconhecer o som.
A primeira avaliação a ser solicitada para um diagnóstico é a audiometria, capaz de medir o poder da audição. Paralelamente à bateria básica de exames, pode ser solicitada a logoaudiometria, que investiga a compreensão de fala, e um exame específico para analisar uma parte do ouvido chamada orelha média, local onde ocorre acúmulo de secreção em caso de inflamação. Esse é o checkup básico para descartar a hipótese de um problema auditivo. A partir daí, são indicadas outras avaliações clínicas (hemograma, teste ergométrico, teste de glicemia…) em busca da real causa.
O tratamento é focado de acordo com a causa do zumbido. Uma pessoa com alteração no ouvido pelo excesso de sal na alimentação fará uma dieta pobre no tempero; quem escuta o ruído por conta da oscilação na pressão arterial deverá controlá-la. Podem ser recomendados medicamentos para controle da ansiedade e da depressão, bem como substâncias naturais. Terapias alternativas (acupuntura, técnicas de relaxamento…) também dão bons resultados, pois cuidam do paciente como um todo. Há ainda a técnica de mascaramento (que, como o próprio nome diz, disfarça o barulho por meio do uso de um aparelho que emite outro ruído constante), a terapia de habituação (capaz de treinar o cérebro para mudar a percepção do zumbido) e a amplificação (com um aparelho auditivo que amplifica os sons externos).