Alterações auditivas, zumbido e vertigem são os sintomas de um problema que todo mundo pensa que conhece, mas os especialistas afirmam que nem sequer é uma doença, e é a segunda queixa nos consultórios, só perdendo para a dor de cabeça – a labirintite.
Você jura que passou ou pelo menos conhece alguém que já teve uma “crise de labirintite?” Ok, mas saiba que, de acordo com os especialistas, não existe um mal com esse nome. “Ela não é uma doença”, esclarece o otorrinolaringologista e professor universitário Cláudio Coelho, membro da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia. Labirintite, explica, é um termo usado para definir um conjunto de três sintomas: tontura, que pode variar de alguns segundos até muitos dias, dependendo da doença envolvida; zumbido forte nos ouvidos ou que parece vir de dentro da cabeça; alterações de audição, como perda ou diferença da capacidade auditiva entre os dois ouvidos, intolerância a determinados sons e sensação de pressão.
Segundo Cláudio Coelho, esses três sinais revelam problemas no ouvido interno (labirinto). “São aproximadamente 300 doenças distintas, todas envolvendo os sintomas combinados ou isolados, com mais de 2 mil causas possíveis. Qualquer manifestação deles – especialmente a tontura – é o que as pessoas chamam de labirintite”, esclarece.
Ouvido interno: o ‘xis’ do problema – Para entender melhor, vale dar uma viajada por dentro do canal auditivo. O ouvido interno é uma estrutura que transforma o som em impulsos elétricos que são levados pelos nervos até o cérebro. Mas ele não registra apenas sons: interpreta igualmente os movimentos da cabeça, que são integrados – junto com os dados visuais captados pelo olho e com a percepção dos músculos – na parte do cérebro responsável por nosso equilíbrio corporal. “Quando as pessoas falam em labirintite”, explica Cláudio Coelho, “se refere a uma dessas cerca de 300 doenças que podem ocorrer dentro do ouvido interno, nos nervos que ligam com o cérebro ou ainda nos próprios centros cerebrais”.
Segundo o especialista, a mais comum em adultos é a doença de Ménière, que se caracteriza por um aumento da pressão do líquido que circula dentro do labirinto – a endolinfa. Os sintomas são vertigens, a presença ou aumento do zumbido e a sensação de pressão nos ouvidos. Outro mal frequente é a vertigem posicional paroxística benigna, que é uma tontura ligada à posição da cabeça – alguém que fica tonto ao se abaixar ou voltar à cabeça para a direita, por exemplo – e que é mais frequente nos idosos. “essas duas doenças são as que ocorrem na grande maioria dos 300 casos”, diz o especialista. Durante a infância, há dois problemas costumeiros de labirinto: a vertigem paroxística benigna – tonturas em crianças que provavelmente sofrerão de enxaqueca na idade adulta – e a otite média serosa, causada pela presença de líquido no ouvido médio e que provoca vertigens.
Dois vilões: estresse e má digestão – As causas mais frequentes da doença de Ménière – a mais comum – são os distúrbios no metabolismo do açúcar devido a erros alimentares (como ficar longos períodos sem comer ou ingerir grandes quantidades de açúcar, especialmente para quem tem casos de diabetes na família), além de infecções virais, aumento de colesterol, automedicação e pressão alta. Embora não atue diretamente sobre o labirinto, o desgaste emocional também ‘bagunça’ todo o organismo – e o labirinto é uma das regiões mais sensíveis do nosso corpo. “Se o estresse provoca uma baixa no estado imunológico, é mais fácil que a pessoa contraia uma virose durante uma gripe, por exemplo, e essa virose venha a gerar um problema labiríntico”, esclarece o otorrino. Além disso, o indivíduo estressado tem mais possibilidade de incorrer numa série de erros que afetam o metabolismo e facilitam o aparecimento dessas doenças: má alimentação, sedentarismo, fumo e café em excesso.
Mas, afinal, os males do labirinto tem cura? “Sim, desde que se descubra qual das 300 doenças está se manifestando e qual das cerca de 2 mil causas a provoca”, afirma o especialista. Para isso é necessário uma avaliação otoneurológica – um conjunto de exames que abordam tanto a parte auditiva quanto a do equilíbrio corporal da pessoa. O diagnóstico, junto com a história clínica do paciente, indica a causa da doença. A partir daí são pedidos os testes específicos para o problema detectado e o tratamento indicado.
10 dicas para evitar a’ labirintite’
1 – Comer bastante no café da manhã, razoavelmente no almoço e pouco no jantar.
2 – Não ficar mais de três horas sem ingerir alguma coisa.
3 – Não usar açúcar de absorção rápida, oriundo da cana-de-açúcar e do mel de abelha, e dar preferência a algum adoçante ou fruta.
4 – Comer muitos legumes e frutas e beber de quatro a seis copos de água diariamente.
5 – Não abuse de massas, carne vermelha e gorduras em geral.
6 – Não exagere no sal – que aumenta a pressão arterial e prejudica o labirinto.
7 – Evite a automedicação.
8 – Limitar o uso do café, chá preto e refrigerante, além de diminuir o cigarro e o álcool.
9 – Não levar vida sedentária para manter em ordem o sistema cardiovascular.
10 – Evitar ruído intenso, que também afeta o labirinto.