Em muitas escolas, uma questão volta a preocupar pais e professores. A surdez infantil.
Na escola a reclamação é antiga. Baixo rendimento escolar por perda auditiva. Segundo o otorrinolaringologista Cláudio Coelho, membro da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia e autor da pesquisa pelo terceiro ano consecutivo ‘problemas auditivos não detectados em escolares’, em 2010 foram avaliados 360 crianças com 19% das crianças algum problema auditivo, em 2011, 487 crianças na faixa de quatro a 11 anos foram submetidas ao exame de audiometria e 21% delas apresentaram algum grau de perde auditiva. Em 2012 foram examinadas 610 crianças na mesma faixa etária e 23% delas também apresentaram grau de perda auditiva “O esperado seria que todas as crianças estivessem dentro dos padrões de normalidade, ou seja, ouvindo entre 25 decibéis (sons fracos)”, analisa Cláudio Coelho.
Geralmente a perda auditiva de grau leve a moderada, não é percebida, já que o nível de intensidade de uma conversa entre duas ou mais pessoas, está em torno de 70 dB, e uma criança que apresenta uma perda leve ou moderada, escutará perfeitamente a conversa, nesta intensidade. “A dificuldade maior desta criança é para discriminação de sons de menor intensidade, em torno de 30 dB, algo bem baixinho, mas que pode aumentar se não for diagnosticado logo”, explica o otorrinolaringologista que vem se especializando nessa área.
Para o médico, o aumento dessa perda auditiva está nos aparelhos cada vez mais sofisticados, antes era o MP3 e Ipods. “A onda agora são os próprios celulares, com tecnologia e som cada vez maiores”, analisa. Algumas das crianças que foram diagnosticadas e apresentaram alterações auditivas, tinham problemas de troca de fonemas e apresentavam rendimento escolar pouco satisfatório. “A criança muitas vezes tem baixo rendimento escolar, mas os responsáveis nem imaginam que essa criança pode estar com problemas auditivos. Os pais devem aproveitar que o ano letivo estará começando em breve fazer um exame audiométrico”, alerta Coelho.
Para ele, as crianças quando ingressam na escola passam a receber diversos estímulos, os quais vão atuar diretamente sobre o desenvolvimento cognitivo, social e emocional da criança. “Para que isto ocorra de forma natural e correta é necessário que haja integridade funcional de diversos sistemas como, por exemplo, o visual, neurológico e o auditivo. Quando algo não está funcionando adequadamente esta criança poderá apresentar déficit em sua aprendizagem”, esclarece.
É na escola que os professores lidam com as dificuldades da criança em ler e escrever e principalmente com as trocas de fonemas. Na fase de aquisição da linguagem, a criança deve possuir boa audição para que consiga realizar discriminação auditiva e assim, fazer a distinção sonora adequada em determinados fonemas tais como: /t/ com /d/, ou /f/ com /v/, /g/ com /c/, ou ainda /p/ com /b/, entre outros. Estes são alguns dos fonemas mais trocados, muitas vezes essas trocas ocorrem em decorrência de perda auditiva mesmo que mínima. Quanto mais cedo à criança for estimulada auditivamente, mais cedo se dará início ao processo de comunicação.